Prosaico20mg

Voltava eu de uma das lojinhas de produtos brasileiros em Paris, feliz e contente, com iguarias para feijoada e quitutes diversos, incluindo uma lata de Fanta Uva para a Carol, quando de repente apareceu uma historia para contar. Depois de transportar duas sacolas semi pesadas pelo Metrô de Paris, consegui um lugar sentado no ônibus - para a minha sorte bem espaçoso e sem me preocupar com o lugar para a bagagem. Me acomodei perto da janela, com o solzinho de primavera esquentando os ossos e as sacolas no chão, para descansar os dedos.
Mas como nada é perfeito, no primeiro semaforo, o ônibus deu uma brecada mais forte do que o normal e uma das sacolas foi projetada para a frente, mesmo em direção ao ferro do banco posterior ao meu. O embate foi mortal para a latinha de Fanta que foi perfurada em um ponto vital sem direito à air-bag. Resultado: Fanta Uva começa a escorrer pela sacola - branca - que, por sinal, era feita de um material reciclavel que pode ser otimo para o meio ambiente mas foi pessimo para conter o vazamento.
Alguns segundos depois do choque, ja via os fios de Fanta Uva escorrendo pelo piso do ônibus e eu pouco podia fazer, ja que nao tinha sacola reserva e era impossivel retirar a lata la de dentro sem piorar ainda mais a situação. Por isso resolvi não mexer no acidentado para não aumentar as lesões e torcer para que o liquido se acomodasse na lata.
E la estava eu, dentro do ônibus, sob o sol da primavera, com uma sacola vazando e TODOS que entravam olhavam pra mim como se eu não soubesse do vazamento, mesmo que eu às vezes mexesse na sacola tentando controlar a situação.
Eu não sei de todo mundo, mas poucos franceses conhecem Fanta Uva, então acho que o mais provavel era acharem que eu estava transportando um pedaço de carne de vaca recém abatida dentro do saco. So assim consigo explicar a cara de "você tem a braguilha aberta" que todos faziam para mim. Minha vontade era escrever na testa "eu sei que minha sacola esta furada e sai um liquido roxo de la de dentro mas nao posso fazer mais nada agora", no entanto achei a frase muito comprida e além disso não tinha caneta.
Depois de dez minutos de viagem, muitas curvas pra esquerda e pra direita, acelerações e freadas, o liquido ja estava por toda a parte e o piso do ônibus parecia um mapa de afluentes do rio Amazonas.
Até que, quase no final da minha viagem, um estudante francês me chamou a atenção com muita educação para o que eu ja sabia. Eu expliquei que ja tinha notado o incidente e que aquilo era suco de uva. Acho que ele estranhou a minha tranquilidade, talvez pensasse que eu iria jogar o saco pela janela e dizer: "que nojo!"
Fim da viagem! Mais cinco minutos procurando um saco de lixo e desovar o presunto, ou melhor, a Fanta Uva. Dessa forma, caros leitores, colaborei, sem querer, para disseminar um pouquinho de Brasil ya ya pelas terras gaulesas.

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