Um
Não era o primeiro carro que comprava. Era apenas o mais importante. Aquele que iria mudar definitivamente a sua vida. Preferia não contar isso a ninguém, mas os automóveis parados ali no saguão, depois de anos de uso indevido e irrestrito, pareciam saber que a sua visita a uma loja de carros usados só poderia ser justificada por uma razão muito especial.
Seu mal estar era evidenciado pela roupa exageradamente desajeitada, aquele paletó de veludo marrom com as mangas mais curtas do que o normal, as calças jeans de todos os dias, a camiseta verde-oliva e os sapatos que só usara no casamento da sua irmã. Com a morte dos pais e a mudança da irmã, Vinícius ficara sozinho em casa e era chegada a altura de fazer algo. Mas o planejamento prévio daquele dia não retirava a sensação esquisita que percorria o seu corpo. Um certo gosto amargo na boca, um calor morno na testa e as mãos se desfazendo em suor o deixava profundamente irritado.
Enquanto o vendedor preenchia infinitos papéis e usava dezenas de carimbos invisíveis, ele aguardava a hora de pagar e sair daquele mundo nojento e estranho o mais rapidamente possível. O empregado, sentado numa cadeira estofada mas com mais rodagem que todos os carros ali presentes, remexia nos papéis que explodiam da sua mesa sem controle sobre o que estava fazendo.
O Fiat 147 azul marinho parado do lado de fora refletia de forma opaca a luz do sol do meio dia. A escolha já estava feita e, agora, o seu único companheiro tinha 55 cavalos e 800 quilos. Caminhou até à porta ao mesmo tempo que enxugava as mãos nas calças pegajosas. Olhou no horizonte do capô do velho 147 e viu o alinhamento das lojas da pequena cidade. Estabelecimentos decadentes, letreiros bregas pintados com com cores berrantes e o cheiro nauseabundo de merda faziam Vinícius odiar ainda mais aquele lugarzinho.
Sem perceber, tinha a expressão carregada com um certo ar de asco, um nojo bolorento daquela visão do seu presente. Só se desfez da cara espremida quando sentiu o toque do vendedor no seu ombro e uma voz com palavras mágicas.
- Está tudo pronto. É só assinar os papéis e passar o cheque..
A burocracia acabou. Tinha chegado a hora de partir.
Seu mal estar era evidenciado pela roupa exageradamente desajeitada, aquele paletó de veludo marrom com as mangas mais curtas do que o normal, as calças jeans de todos os dias, a camiseta verde-oliva e os sapatos que só usara no casamento da sua irmã. Com a morte dos pais e a mudança da irmã, Vinícius ficara sozinho em casa e era chegada a altura de fazer algo. Mas o planejamento prévio daquele dia não retirava a sensação esquisita que percorria o seu corpo. Um certo gosto amargo na boca, um calor morno na testa e as mãos se desfazendo em suor o deixava profundamente irritado.
Enquanto o vendedor preenchia infinitos papéis e usava dezenas de carimbos invisíveis, ele aguardava a hora de pagar e sair daquele mundo nojento e estranho o mais rapidamente possível. O empregado, sentado numa cadeira estofada mas com mais rodagem que todos os carros ali presentes, remexia nos papéis que explodiam da sua mesa sem controle sobre o que estava fazendo.
O Fiat 147 azul marinho parado do lado de fora refletia de forma opaca a luz do sol do meio dia. A escolha já estava feita e, agora, o seu único companheiro tinha 55 cavalos e 800 quilos. Caminhou até à porta ao mesmo tempo que enxugava as mãos nas calças pegajosas. Olhou no horizonte do capô do velho 147 e viu o alinhamento das lojas da pequena cidade. Estabelecimentos decadentes, letreiros bregas pintados com com cores berrantes e o cheiro nauseabundo de merda faziam Vinícius odiar ainda mais aquele lugarzinho.
Sem perceber, tinha a expressão carregada com um certo ar de asco, um nojo bolorento daquela visão do seu presente. Só se desfez da cara espremida quando sentiu o toque do vendedor no seu ombro e uma voz com palavras mágicas.
- Está tudo pronto. É só assinar os papéis e passar o cheque..
A burocracia acabou. Tinha chegado a hora de partir.
Me sinto um pouco como o Vinícius, às vezes!
Má, meu leitor mais assíduo, obrigada pelo elogio!
Beijos de fã!
Posted by CarolBorne | 2:55 PM
cara, me lembrou um pouco contos do garcia marques... o sentimento e tudo mais... (não era pra parecer um elogio tão grande... hehehhehehe)
abração e não pare!
Posted by Anônimo | 1:34 AM