Bloco de notas
Às vezes os argumentos mais bonitos eram para ele os mais tristes. Lia algo que gostava e tinha vontade de colocar no papel toda a tristeza e emoção que sentia, mas na primeira linha tudo parecia ridículo e banal. Deixou de escrever compulsivamente para apenas registrar sentimentos e emoções passageiras. Com o tempo, passou a escrever cada vez menos e apenas interiorizava todos aqueles textos e intenções que gostaria de colocar no papel. O nó na garganta ficava maior à medida que lia coisas que o tocavam e acalmava quando conversava com seu irmão, mas a escrita era, ainda, uma muleta inconsequente que não o ajudava, nem aliviava a dor da vida. Pensou. Resolveu escrever poesia e, assim, pensava que conseguira atingir o nirvana literário, o estatuto de paz interior. Mas a impaciência e a insatisfação explodiam dentro dele a cada noite que dormia com as palavras no coração, com as linhas escritas na sua mente. No entanto, achava que na verdade não queria colocar aquelas palavras tristes no papel, apenas queria viver e registrar os momentos felizes, mesmo sendo eles cada vez mais restritos. Comprou um bloco de notas e um lápis miniatura e passou a escrever quase vinte horas por dia, num fluxo constante de emoções e conflitos pessoais. Sentia-se melhor de vez em quando, mas a necessidade de escrever crescia a cada hora sem dormir. Passou a ter noites de insônia que passava rabiscando o velho bloco de notas e insensível à ausência de descanso. Deixou de comer porque pensava que o tempo que passava se alimentando era inútil e porque o nó na garganta provocado pelos sentimentos não o deixavam engolir os fatos da vida. Precisava colocá-los no papel para que eles deixassem de o incomodar. Quando foi internado, segurava nas mãos o bloco de notas e um lápis quase sem ponta. Seus dedos estavam calejados pela escrita e tinha as unhas pretas pela grafite. Olhava fixamente o teto, sozinho, sem saber o que escrever, mas com os sentimentos acompanhados de uma multidão de palavras. Prontas para sair.
Lindo, lindo, lindo...
Posted by Milady Carol | 1:29 PM
Triste. Parece que está falando de mim... Muito belo texto, Celinho. Isso sim, eu gosto. Que você se rale todinho, mas que me faça cafungar.
Beijo na mão.
Posted by Dalva M. Ferreira | 12:09 PM