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Sobre o referendo

Para não dizer que não falei de armas, aqui estou eu com o texto da praxe sobre o referendo sobre o desarmamento no Brasil. Em primeiro lugar, como muita gente já afirmou, o Brasil se transformou em duas grandes torcidas fanáticas pelo "sim" e pelo "não" como se defender um ou outro ponto de vista fosse o maior atentado à razão e ao bom senso.
Comecei a escrever esse texto e já enjoei do assunto só de tocar nele, mas vou termina-lo mesmo assim. Os motivos para o "sim" e para o "não" já foram explorados pelas revistas semanais, e por blogs que gosto muito, como o Licor de Amarula, o Inagaki , Cyn City e muitos outros, por isso só resolvi falar da estupidez enorme de organizar um referendo sobre algo tão complexo. Há um risco constante nas democracias em querer obedecer ao ditado: "A voz do povo é a voz de Deus". Aliás, acredito que, em alguns casos, o Criador estaria envergonhado se visse no povo o eco de Sua própria voz, por isso acho arriscado querer entregar (ou seria despejar?) nas mãos do povo a responsabilidade de uma decisão que os próprios políticos não tem coragem de tomar. Já pensaram se todos os Governos reasolvessem consultar o povo para qualquer decisão? Do tipo: "Concorda com o aumento de salários dos deputados?", ou "Concorda com a venda de pirulitos de forma livre a crianças menores de 16 anos?" O país não sairia de uma teia de referendos e consultas populares para assuntos que os Governos têm legitimidade para decidir.
Sobre as armas, simplesmente não me perguntem. Não aguento mais receber mails, mensagens, avisos, ameaças de que a proibição de venda vai desarmar a população e deixar o povo a mercê de bandidos com armas até os dentes. Eu tenho a minha opinião que é a seguinte: pela quantidade de reportagens e pessoas defendendo a venda de armas com o motivo de "que possamos nos defender da criminalidade", fico apreensivo caso a proibição da venda não passe no referendo. A partir daí, qualquer bola que caia na casa do vizinho pode ser motivo de assassinato de uma criança por legítima defesa. Posso estar exagerando, mas pelas reações, parece que após o referendo, metade da população vai correr para uma loja de armas comprar um 38 para colocar debaixo do travesseiro.
Numa época diferente da nossa, deixo aqui um texto do Padre António Vieira sobre um dos momentos mágicos da história da civilização, além da invenção da imprensa: a criação da pólvora. Desde então, o Homem descobriu que ao invés de jogar uma pedra, enfiar uma espada, ou dar um soco, podia atirar na covardia de milhas de distância(às vezes pelas costas) e acertar com um projétil alta velocidade no corpo de um ser humano ou animal.

"E que cousa boa trouxe ao mundo a pólvora? Um desengano universal, de que nenhum homem se deve fiar nas próprias forças. Antigamente havia Aquiles, havia Hércules, havia Sansões: depois que a pólvora veio ao mundo, acabou-se a valentia dos braços. Um pigmeu com duas onças de pólvora pode derrubar o maior gigante".

PS: O sermão foi pregado aos oficiais da artilharia, no dia de Santa Bárbara, padroeira da Artilharia e protetora contra chuvas e trovões , pelo mesmo motivo: o ruído dos tiros/trovões.

Bah...Uma questão dessas ser resolvida dessa forma, so da a impressão de que o governo quer "lavar as mãos": deixa o povo decidir, assim a decisão é intocavel e ninguém tem culpa de nada. Ainda bem que não preciso votar.

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