A foz da minha alegria
Enquanto as máquinas destruiam 40 anos de lembranças, as lágrimas seguiam o seu curso pelas rugas do rosto moreno. As crianças já não brincam no pequeno quintal, os gatos fogem da agitação como podem e as flores tentam enfeitar os entulhos de uma vida. Dona Sebastiana não tem muita coisa. Dois filhos, três netos pequenos, alguns móveis e o Nemésio, um papagaio que a acompanha há 9 anos. As suas lágrimas, sinceras, são de saudade por um tempo que já não existe, quando a vila era apenas um amontoado de casas familiares e dignas. Em quarenta anos, muita coisa acontece. Dona Sebastiana já não tem a força e o vigor de outros tempos e as casas já extinguiram a sua exuberância. Ao ritmo dos golpes da escavadeira, o choro se transformava em soluço e as memórias em pedra e pó.
Apesar dos tapinhas nas costas e abraços gélidos dos amigos, que lhe relembravam a nova vida no novo apartamento com novas cortinas e novas lembranças, dona Sebastiana não queria novidades. Há muito tempo que convivia com o seu passado bem melhor do que com os planos de um futuro que não desejava.
Ao seu lado, um antigo morador parecia querer enterrar as lembranças e se certificar de que não sobraria uma parede de pé. As perspectivas diferentes alinhadas do outro lado da rua, com os olhos molhados por emoções opostas lembravam que a convivência naquela vila nunca fora pacífica. Brigas, tiros e discussões marcaram os quarenta anos do local. Mas ao mesmo tempo, muitos churrascos, nascimentos e casamentos ajudaram a apoiar e segurar as paredes dos barracos com doses cavalares de humanidade.
Agora, só existe a solidão cinzenta do entulho. Quarenta anos de alegrias e tristezas reduzidas a nada em poucos minutos. Uma nuvem de pó secou as lágrimas de dona Sebastiana mas ao mesmo tempo petrificou a sua presença do outro lado da rua. Quando tudo acabasse, o seu coração de pedra continuaria ali, com as flores, com os gatos e com as crianças.
Apesar dos tapinhas nas costas e abraços gélidos dos amigos, que lhe relembravam a nova vida no novo apartamento com novas cortinas e novas lembranças, dona Sebastiana não queria novidades. Há muito tempo que convivia com o seu passado bem melhor do que com os planos de um futuro que não desejava.
Ao seu lado, um antigo morador parecia querer enterrar as lembranças e se certificar de que não sobraria uma parede de pé. As perspectivas diferentes alinhadas do outro lado da rua, com os olhos molhados por emoções opostas lembravam que a convivência naquela vila nunca fora pacífica. Brigas, tiros e discussões marcaram os quarenta anos do local. Mas ao mesmo tempo, muitos churrascos, nascimentos e casamentos ajudaram a apoiar e segurar as paredes dos barracos com doses cavalares de humanidade.
Agora, só existe a solidão cinzenta do entulho. Quarenta anos de alegrias e tristezas reduzidas a nada em poucos minutos. Uma nuvem de pó secou as lágrimas de dona Sebastiana mas ao mesmo tempo petrificou a sua presença do outro lado da rua. Quando tudo acabasse, o seu coração de pedra continuaria ali, com as flores, com os gatos e com as crianças.
Ai, Dr. Celinho que texto esse...
a gente se sente assim, como D. Sebastiana, quando certas coisas são destruidas...
Tem remedio pr´essa tristezinha que acabou de chatear meu coração?
snif, snif
Posted by Anônimo | 11:09 PM
Essa sensação de desamparo é terrivel...
Posted by Anônimo | 12:23 AM
Triste realidade da vida....
Sera que existe algo para acalmar o desespero dessas pessoas que perdem tudo, acabam por se sentir so e desamparadas!!
Posted by Anônimo | 11:19 AM