quinta-feira, janeiro 25

453 anos, parabéns São Paulo!

Procurando base de pesquisa para um texto em homenagem aos 453 anos da cidade de São Paulo, encontrei muitas coisas. Muitos clichês, textos desatualizados e fotos de arquivo. Nenhum artigo sobre a minha cidade é, ou um dia vai ser, definitivo. Letras de canções exaltando a beleza e a feiura de São Paulo existem aos montes. Nos 450 anos, data especial, espécie de jubileu onde todos se lembraram de tirar uma casquinha da capital paulistana, diversos livros foram editados, com fotos magnificas e textos ainda melhores. Ponto positivo para as datas comemorativas onde os elogios rasgados servem de mote para que boas lembranças sejam desenterradas do fundo do bau.
Ja li que ser paulistano é vantagem apenas para paulistanos. No resto do pais é handicap. Não ouso começar uma discussão sobre o que é ser paulistano. Teria milhares de respostas e nenhuma definitiva, ja que o caldeirão onde se fundou São Paulo é o seu principal triunfo e o seu principal sumidouro.
Cada região de Sampa - sou de casa, posso ter intimidades - tem o seu fervor, a sua identidade, o que os americanos chamaram de melting pot e na capital paulista pode ser chamada de riqueza cultural. Japoneses, italianos, portugueses, judeus, libaneses, turcos, alemães, gregos, espanhois, franceses, e todas as religiões ganharam a sua vida no ritmo de um relogio que passou a trabalhar cada vez mais rapido, numa sociedade que cresceu sem medo e sem medida.
Hoje, a cidade, cheia de defeitos, resultado de uma ausência de senso de urbanismo que envergonharia o antigo prefeito Prestes Maia, tem muitos reflexos. Alguns sombrios e outros mais luminosos que fazem com que, ao mesmo tempo, critiquemos e que nos arrepiemos com certos simbolos que são so de São Paulo - para a nossa sorte e para o nosso azar.

"No relogio da Paulista/quatro horas da manhã/Ta chegando no Ceasa/outra caixa de maçã/Ta chovendo pra chuchu/la no Anhangabau/As pessoas vão correndo em vão/pra avenida São João/No relógio da Paulista/Cinco horas da manhã/Tá chegando no Ceasa/Outra caixa de maçã/A aurora já raiou/Me intrometo no metrô/Na ladeira da Consolação/Sobe e desce condução/Meu amor, meu coração/Araçá, que horas sãoNo relogio da Paulista/São seis horas da manhã/Ta chegando no Ceasa outra caixa de maçã"

Essa musica, de Passoca e Guca Domenico, é uma pequeno extrato da vida paulistana, que também é a São Paulo dos Racionais, de Rita Lee, do Ira!, e de muitos outros compositores que, de diversas partes do Brasil, descobriram na cidade um mote e um tema para amar e odiar. Mas o mais singelo de todos talvez seja João Rubinato, também conhecido entre nos pelo pseudônimo de Adoniran Barbosa. Em homenagem aos 453 anos de Sampa, transcrevo uma historia que ocorreu com Adoniran quando trabalhava na Radio Record ha quase 30 anos e resolveu pedir aumento para o seu chefe:

Chefe: É verdade, você tem que ser aumentado pois ganha muito pouco. Vou lhe aumentar (Era uma quinta-feira). Vou estudar o seu caso. Volte na segunda-feira que lhe darei uma solução.

Na segunda-feira seguinte, lá estava Adoniran.
Chefe: Não esqueci. Estou estudando o caso. Volte na sexta-feira.

Adoniran voltou ao chefe na sexta-feira combinada.
Chefe: Não esqueci não. É que andei muito ocupado, não tive tempo, mas estou estudando o seu caso. Fique tranqüilo. Vou lhe dar aumento. Estou estudando... Volte na semana que vem.

E na semana seguinte:
Chefe: Não pude fazer nada ainda. Mas pode deixar que estou estudando seu caso. Volte na segunda-feira que vem.

Adoniran voltou na segunda-feira:
Chefe: Estou estudando. Volte na quarta-feira.

Na quarta-feira:
Chefe: Estou estudando. Venha na terça...
Adoniran interrompe:
- Faz o seguinte: vai estudando... quando chegar a sua formatura me avise..

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quarta-feira, janeiro 24

Brasil maravilhoso e sorridente

Não entendo a polêmica com as fotos das turistas holandesas e a Policia Militar do Rio de Janeiro. Os PMs ja vieram a publico dizer que as turistas estavam apenas brincando com as armas e que elas estavam descarregadas. Coisa que a policia - por falta de meios e às vezes por incompetência - ja faz algum tempo. A diferença é que os "turistas" são os traficantes do morro e que as armas quando passam para as mãos dos bandidos passam a estar carregadas.
De resto, os policiais disseram que so fizeram a cena porque as turistas pediram. Que bonzinhos. Posso estar errado mas me questiono se os PMs fariam a mesma coisa se fossem dois marmanjos turistas oriundos de, sei la, Pindamonhangaba da Serra, e pedissem para pegar no fuzil do PM (e nada de piadas prontas, hein?)
So sei que ultimamante os humoristas têm tido a vida facil no Brasil. Cicarelli, Ronaldo Esper, os congressistas.. Precisa de mais? E os estrangeiros ainda ficam impressionados porque os brasileiros riem "à toa". Temos é uma otima matéria prima.

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terça-feira, janeiro 23

A preguiça e eu, tudo a ver

Bom, resolvi desencanar de colocar acentos em algumas palavras. Descobri que uma parte da culpa pela minha ausência nesse espaço é a preguiça gigantesca em escrever o texto no Word e depois passar para o dashboard do Blogger. Eu explico. Com o teclado francês, tenho a vida facilitada para algumas teclas como o "é", o "à", a "ç", ja prontinhas e acentuadas. Em compensação, perdi o direito de utilizar o "a", o "i" e o "o" acentuados. A solução seria, como muitos leitores ja devem estar pensando, fazer o texto no Word com um atalho para as teclas acentuadas e depois copiar e colar para o Blogger. Mas so de pensar nesse mecanismo ja perdia a vontade de começar a escrever. Então ficamos assim combinados, ok?
Reclamações e sugestões serão bem vindas nos comentarios. Obrigado e volte sempre.

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quinta-feira, janeiro 11

YoTube e a censura

Não, não. Este blog não morreu, apenas subiu aos céus para ressucitar ao 21º dia. Tenham paciência, mas em breve volto com mais frequência. Não resisti a um texto que li na Internet e resolvi desabafar para essa plateia escassa e pobre mas limpinha.
O assunto do momento é - mais uma vez - o bloqueio do YouTube através da liminar movida por Tato Malzoni, co-protagonista do filme amador com Daniela Cicarelli (e como vão aumentar os acessos a este humilde blog depois dessa frase aí atrás. Google, aqui vamos nós!). Depois do casa e separa da retirada ou não do vídeo do YouTube, o casal maravilha conseguiu o bloqueio do acesso a todo o site do YouTube, numa iniciativa digna do Governo chinês ou cubano.
Quando li a íntegra da decisão da Justiça sobre o caso, lembrei novamente do quanto os legisladores brasileiros não estão preparados para trabalhar sobre casos que envolvam a Internet por puro desconhecimento da realidade da rede. No texto que referi acima, o relator Ênio Zuliani diz que "O incidente serviu para confirmar que a Justiça poderá determinar medidas restritivas, com sucesso, contra as empresas, nacionais e estrangeiras, que desrespeitarem as decisões judiciais. Nesse contexto, o resultado foi positivo", o que me deixa profundamente preocupado com o caráter de "exemplo" que tal medida parece ter. Tiradentes também foi esquartejado e seu corpo espalhado em praça pública como "exemplo". Não acho que seja um exemplo com o qual devamos estar orgulhosos. Na mesma decisão, o relator explica que o bloqueio do YouTube propriamente dito não tinha sido determinado, mas que "essa determinação é possível de ser tomada em caráter preventivo, como esclarece o jurista português JÓNATAS E. M. MACHADO [Liberdade de expressão: dimensões constitucionais da esfera pública no sistema privado, Universidade de Coimbra, 2002, p. 1123]". Tentando legislar sobre um assunto que desconhece, o relator se defende dizendo que apenas quer que o site instale software ou um sistema de moderação que impeça as pessoas de assistirem o referido vídeo. Mais uma vez demonstrando a total incapacidade de decidir sobre algo que não domina, como é o caso do YouTube, onde o internauta faz, livremente, o upload do vídeo que deseja publicitar.
Dirão os especialistas que se trata de um caso de jurisprudência que ainda não tem uma base legal sólida, mas que, pelo mesmo motivo, abre precedentes contra a liberdade de expressão na rede. Não é o primeiro nem o segundo caso de decisões judiciais baseadas em desconhecimento dos juízes. Já aconteceu com a jornalista Alcinea Cavalcante e com o Imprensa Marrom.
O problema não é saber se há ou não abuso porque este, quando ocorre, é normalmente óbvio. A questão fundamental é bater primeiro e perguntar depois. E não há maior sinal de sabedoria do que reconhecer a ignorância.

PS1: Nem comentei que o relator escreveu a palavra "YouTube" como "YoTube" em 90% das vezes porque achei golpe baixo demais. Mas que é mais um sinal preocupante, isso é.

PS2: Apoio aos boicotes à Daniela Cicarelli, mas também a Tato Malzoni.

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