sábado, abril 30

Conselho farmacêutico_2

Calvin & Hobbes, by Bill Waterson:

"É difícil ser religioso quando certas pessoas nunca são incineradas por relâmpagos."

sexta-feira, abril 29

Tempestade sem querer

A chuva escorre por fora da janela
Meus pecados correm dentro de mim
Ela procura a terra seca e insegura
Eles apenas procuram o teu perdão.

Perguntas pelo meu amor
eu, descomposto, desconverso
Falo do tempo, do frio e do calor

Com a alma molhada e fétida
corro em direção a ti
Me aqueço na sua redenção
perdoo meu próprio pecado

de ter te amado sem intenção.

quinta-feira, abril 28

Realidade em 5 takes

Take 1

- João Roberto, o que você achou do meu novo penteado?
- Gostei..
- Pô, que falta de entusiasmo! Se não gostou, é só falar! Não precisa ficar fingindo!

Take 2

- João Roberto, o que você achou do meu novo penteado?

(respondendo muito rápido)
- Gostei!!!!
- Pô, nem deu tempo pra você ver direito e você já ta falando que gostou? Quero uma opinião sincera!!!

Take 3

- João Roberto, o que você achou do meu novo penteado?

(pensando demoradamente)
- ....Gostei..
- Pô, você demorou tanto pra falar, deve ter achado uma porcaria né? Fala, João Roberto! Pode falar!

Take 4

- João Roberto, o que você achou do meu novo penteado?
- Gostei do corte repicado, mas o tom de marrom não combina muito com seus olhos...se bem que o alisamento japonês favorece o formato do seu rosto e o volume ficou maravilhoso!
- ... Err...João Roberto? O que você tem?

Take 5

- João Roberto, o que você achou do meu novo penteado?
- Tá uma merda.
- Já sabia que você ia dizer isso. Mas não quero saber. Me passa a salada, por favor?

quarta-feira, abril 27

Prosaico das Cavernas

Quando o Homem das Cavernas pintou um cavalo na parede para registrar a sua caçada ou aventura, começou, sem muitas pretensões, a registrar algo para mostrar para outras pessoas, ou até mesmo para si próprio. Mas mais do que um registro pelo ato de escrever, ele obrigou os seus amigos a imaginarem a cena do cavalo. Na parede da caverna não havia nada além de um mero círculo com quatro patas. A cor, o tamanho, o ambiente, tudo isso - que também fazia parte do desenho - ficava sob responsabilidade de quem observava. Liberdade total. E é aí que começa a graça de tudo isso. Cada um imaginava o cavalo do jeito que mais era conveniente. Uns nunca tinham visto um cavalo preto, outros não imaginavam um cavalo muito grande, outras pensavam num cenário pitoresco. Não importa. O espaço para a imaginação estava aberto.
Milhares de anos depois, e numa época em que temos quase todos os materiais disponíveis para fazer o tal desenho do cavalo, gosto de imaginar o caminho inverso. Ter apenas esta folha em branco, juntar meia dúzia de letras formando frases e fazer com que as pessoas imaginem o cavalo, sintam a textura do pelo, ouçam a sua respiração e, de alguma forma, vivam a aventura na qual o cavalo é um dos protagonistas. Acho que é esse o desafio principal de quem escreve. Sei que também é o objetivo de muitas outras artes, além da literatura: expandir significados. Alargar horizontes. Interpretar.
Apesar de haver quem defenda que os cavalos estão aí para serem vistos in loco por todos, às vezes sentimos a necessidade de acreditar, ou duvidar, de uma visão alheia dos mesmos cavalos. E tirar as nossas próprias conclusões. Tire as suas.

terça-feira, abril 26

E de volta definitivamente

Bob Dylan - Stuck In The Middle With You

Well I don't know why I came here tonight.
I've got the feeling that something ain't right.
I'm so scared in case I fall off my chair,
and I'm wondering how I'll get down the stairs.
Clowns to the left of me!
Jokers to the right!
Here I am stuck in the middle with you.
Yes I'm stuck in the middle with you,
and I'm wondering what it is I should do.
It's so hard to keep this smile from my face.
Losing control yeah I'm all over the place.
Clowns to the left of me!
Jokers to the right!
Here I am stuck in the middle with you.
Well you started off with nothing
and you're proud that you're a self-made man
yeah
and your friends they all come crawling,
slap you on the back and say
Please . . .
Please . . .
Trying to make some sense of it all
but I can see that it makes no sense at all.
Is it cool to go to sleep on the floor?
I don't think that I can take anymore.
Clowns to the left of me!
Jokers to the right!
Here I am stuck in the middle with you.
Stuck in the middle
Stuck in the middle
Clowns to the left of me!
Jokers to the right!

domingo, abril 24

Viva o Windows XP

Estive afastado do mundo virtual. Meu computador esteve, e está, com problemas de configuração com o Windows. Estou escrevendo esse texto com o Windows em modo de segurança, o que seria a mesma coisa que prender os ímpetos rebeldes da CPU com uma coleira. Menos mal. Mas peço que não passem embaixo da janela do meu apartamento nos próximos dias. Pode acontecer um acidente e caia um balde de água, ou um vaso, ou um monitor de 15 polegadas. Como podem perceber, levo numa boa os problemas do meu computador. Paz e amor para todos.

quinta-feira, abril 21

Citações aniversariantes

Jerry Seinfeld: To me, the thing about birthday parties is that the first birthday party you have and the last birthday party you have are actually quite similar. You know, you just kinda sit there... you're the least excited person at the party. You don't even really realize that there is a party. You don't know what's goin' on. Both birthday parties, people have to kinda help you blow out the candles, you can't do it... you don't even know why you're doing it. What is this ritual? What is going on? It's also the only two birthday parties where other people have to gather your friends together for you. Sometimes they're not even your friends. They make the judgement. They bring 'em in, they sit 'em down, and they tell you - 'these are your friends! Tell them thank you for coming to my birthday party.

segunda-feira, abril 18

Sincero

Fui sincero e disse que não havia lugar pra ela na minha vida. Depois de ter me olhado com aquela expressão de revolta e resignação, ela suspirou. Sinceramente, não queria que ela suspirasse. Queria que ela me desse um tapa na cara, me chamasse de filho da puta e batesse a porta depois de ter jogado o vaso de porcelana contra um espelho colocado numa estante de vidro. Mas suspirar era a morte.
E a morte entrou em casa, passou por ela e me cumprimentou. Aquele suspiro fez parar as minhas sensações. Naquela hora já não amava, não odiava, não queria, nem desejava. Me limitei a continuar a respirar, mas temi que o suspiro dela tivesse roubado todo o ar da sala, porque nem respirar conseguia mais. Mas antes de perguntar a mim próprio sobre a causa daquelas sensações, acabei por sair do transe com apenas uma frase dela: "Você nunca me conheceu de verdade".
Ouvi aquilo e a expressão de revolta passou a ser minha. Revolta por não saber o que era melhor pra mim. De repente, toda a minha sinceridade era posta em causa pela força de um suspiro. Queria chamar, queria gritar, mas só consegui abrir a boca quando a luz da rua começou a entrar no quarto ao mesmo tempo que ela saía sem falar mais nada. Naquele momento, desejava conhecê-la realmente, saber o que ela tinha para me contar nas horas silenciosas. Mas nunca tive tempo para saber. Ao invés disso, fiquei ali, sentado na cama, com a morte de pé ao meu lado.

domingo, abril 17

Siga o conselho do seu farmacêutico_1

Calvin & Hobbes, by Bill Waterson:

"Os desapontamentos da vida são mais difíceis de encarar quando você não conhece nenhum palavrão."

sexta-feira, abril 15

Fuga

Corro do tempo,
à frente das horas
atrás dos minutos
buscando você

Mas o nosso tempo passou,
ficou naquele domingo chuvoso
naquela mesa de bar
nos dedos entrelaçados
e beijos submissos

Tinha o tempo comigo
dentro do bolso direito
era meu
e seu também.

Ele quis fugir, escalar a razão
atingir o cume da emoção
e eu deixei.

Sem o peso das horas,
sinto falta dos minutos
sinto falta de você
Mas ambos não me pertencem mais.

quinta-feira, abril 14

Rumba dos Inadaptados(Ou A Morte do Jovem Contribuinte)

O texto a seguir é de J.P Simões, vocalista do Quinteto Tati, uma banda portuguesa muito bacana e que recomendo para quem gosta de jazz, world music, etc e umas letras bem sacadas.
No quarto impecável, ao lado do corpo, a carta, com um último artigo a sair no jornal de Domingo, no correio dos leitores, dizia assim: "Sou jovem. Honesto, estudante. Trabalho, sou pago: eu pago os impostos, as letras, os juros, da casa, dos móveis, dos livros na estante, dos discos, dos filmes: Que hei de fazer? Eu vou ao cinema, eu leio poemas, gosto de ler! Eu voto, eu escolho, eu olho nos olhos dos casos, dos fatos, das coisas concretas: Eu não tomo drogas, não sou alcoólico! Eu estou preocupado e um pouco dorido ao ver que em várias revistas adultos, ministros, artistas, nas entrevistas da tv, demonstram que os jovens são brutos, boêmios, incultos, autistas, não têm emprego, ou são arrivistas e mal educados: são tão depressivos, são tão destrutivos, que hei-de fazer? Com 23 anos já não faço planos: para quê fazer? Eu vivo da esperança na vaga mudança que nunca vai acontecer: Eu não tomo drogas, não sou alcoólico!

quarta-feira, abril 13

Profecias

Sinceramente não sei se temo ou se rio com as profecias. Li uma notícia que dizia que, de acordo com uma profecia de São Malaquias, no século XII, só teremos mais dois papas até o fim do mundo. Isso me faz pensar em duas conclusões. Ou a ciência vai descobrir rapidamente o segredo da longevidade que permita que vivamos uns 200 anos no mínimo, ou é bom eu começar a agilizar a cobrança daquelas dívidas difíceis que vão permitir fazer a viagem que eu tanto sonhava mas estava sempre deixando para depois.
Além disso, de acordo com a mesma profecia, o próximo papa será uma pessoa "relacionada à oliveira". Aaaaah bom! Isso esclarece tudo. O próximo papa vai ser o seu Oliveira da padaria. Ou o cara que vende azeitona na feira livre de terça-feira. Ou aquele agricultor que planta oliveiras e faz azeite. Acho que vou procurar na lista telefônica..Odair, Odemar, Olavo, Oliveira! Agora só falta saber quais dessas 300 mi pessoas estão disponíveis para se mudar para Roma nos próximos anos. Fácil, fácil!
De qualquer forma, fico sempre impressionado com a capacidade daquelas pessoas, ditas "profetas" de falar sobre o futuro olhando para restos de café, para uma bacia de água choca ou analisando a tonalidade de cor da língua do Rex, o vira-lata que estava por ali. Ok, essa última eu exagerei. É, sim, pela íris dos olhos do canídeo.
Na verdade, hoje em dia qualquer coisa pode prever o futuro. Os grãos de feijão no prato depois de uma feijoada podem significar o fim dos tempos. As milhares de migalhas de pão presas na minha blusa de lã depois do café da manhã podem simbolizar o caos e a burrice humana. Ou podemos analisar o futuro olhando, por exemplo, para o valor em numerário na minha conta bancária, mas aí com certeza, o significado é apenas um: o apocalipse total. Pelo menos para mim. Que venha o magnânime gerente do banco e separe os bons clientes dos maus, julgue os pré-datados, olhe para os meus pecados no cartão de crédito e decida se deve ou não me mandar para o Fogo da Lista Negra do CNPC. Saravá!

segunda-feira, abril 11

Viva Manuel Bandeira..

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

domingo, abril 10

Nem sempre é facil ser criativo

Num trabalho que fiz outro dia, fui assistir a uma palestra falando sobre o processo criativo e, numa referência à importância da criatividade, ouvi essa história de um inglês, convidado na conversa:
"Historicamente, no passado, os verdadeiros líderes eram aqueles que estavam montados nas costas de um cavalo. No presente, são os presidentes que estão sentados nos escritórios das grandes empresas, na frente de obras de arte. No futuro, os líderes serão os artistas que pintaram aquelas obras-de-arte".

sábado, abril 9

->(sem título por puro esquecimento)

Sou uma pessoa esquecida. Esqueço datas, aniversários, as chaves de casa, dinheiro e até onde costumo estacionar o carro. Não sei se é o peso dos anos chegando ou se eu preciso que me receitem magnésio, ou fósforo. Ou as duas coisas. Pode ser só uma característica totalmente normal da minha personalidade, como acordar de mau humor ou matar passarinhos com estilingue. Ok, a parte do passarinho é mentira. Geralmente são gatos. Antes que receba mails da Sociedade Protetora dos Animais, deixo bem claro que é brincadeirinha viu? Pronto, esclarecido.
Como ia dizendo, o esquecimento pode complicar a vida das pessoas, principalmente a profissional. Por exemplo, eu, se esquecer uma vírgula, um acento ou uma palavra, é normal, ninguém morre por causa disso, apenas acabo descendo na consideração das (sete) pessoas que me lêem. Se tiver sorte posso até fazer com que seja o meu "estilo pessoal de escrita", e acabo ficando famoso.
Mas em algumas profissões fico realmente preocupado com o problema. Na medicina por exemplo, já ouvimos algumas notícias de cirurgiões que esquecem coisas dentro do paciente, ou ainda, esquecem de fazer a cirurgia.

(Na sala de operações, o médico principal começa a tirar as luvas de latex e a touca)
-Pronto, podem fechar o paciente.
-Errr...mas dr, ainda falta extrair o apêndice... - alertam as enfermeiras.
-Droga! Sabia que estava esquecendo alguma coisa..

Mas pode ser pior. Frequentemente eu perco papeis ou caneta na minha mesa, imagino como deve ser num corpo aberto e todo vermelho...e a porcaria dos órgãos são da mesma cor! Não dava pra fazer uma anatomia "plug and play"? Que tal se os órgãos do sistema digestivo fossem amarelos, do sistema respiratório fossem azuis e do sistema circulatório verde fluorescente? Errr...ok, se preferirem, esse último pode ser vermelho.
Mas assim seria tudo muito mais fácil e dificilmente os médicos perderiam bisturis, pinças e tesouras dentro de nós. Aliás, agradeço a Deus e a quem inventou a esterilização, pelas fato das salas de cirurgia terem que ser lugares isolados dos nossos objetos do dia-a-dia. Se operassem no meio da bagunça de um escritório seria muito mais grave.

-Bom, acabei a cirurgia, levem o paciente para a recuperação.
-Certo, dr..
(médico procurando nos bolsos da calça)
-Pera, pera, pera, pera! Vocês viram a chave do carro por aí?
-Quando cheguei estava em cima da mesa, mas na última vez que eu vi estava na cavidade toráxica, o sr. não tirou de lá?

Por falar nisso, meu celular está tocando. Mas não sei de onde vem o toque, só sei que dentro de mim meu estômago está roncando. Ou será vibrando? Epa! Meu celular não toca assim!!

sexta-feira, abril 8

Sem rumo

Às vezes as emoções evaporam
e me sinto só, num caldeirão de razão
ofuscado por paixões imaginárias
que enganam, quem mentem, que matam.

Mergulho na serenidade,
quero voltar a ser eu
Mas encontro alguém desconhecido
ou que pensei ter perdido

Solto o corpo e me deixo cair
sem volta, num vôo vago
perdido no pântano
plantado no meu peito.

quarta-feira, abril 6

Qual será o segredo de Tostines?

Citando um trecho de um dos meus filmes preferidos (High Fidelity)

Rob Gordon: What came first, the music or the misery? People worry about kids playing with guns, or watching violent videos, that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands, literally thousands of songs about heartbreak, rejection, pain, misery and loss. Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?

terça-feira, abril 5

Saindo de cena

Gavetas vazias. Ao seu redor, caixas com objetos inúteis, outrora cheios de significado. Seria a vida uma mera mudança de utilidade das coisas? O que antes era fundamental passa a ser acessório? Sentia-se cinzento por dentro e, no entanto, por fora as cores eram indiferentes porque nunca demonstrariam o que realmente estava sentindo. Revolta? Não. Apenas a vontade de sair daquela repartição pública onde seus planos nasceram e morreram.
Nunca se perguntara se os sonhos, assim como nós, têm um ciclo de vida. Mas agora, ao olhar para uma vida de trabalho dentro de quatro caixas de papelão, todas as questões pareciam possíveis. Um lápis sem ponta, um pacote de chicletes e uma foto 3x4. As três coisas repousavam inválidas no topo da caixa mais cheia e isso prendeu a sua atenção por breves instantes. Um lápis sem nenhuma função, chicletes fora do prazo de validade, e uma foto engavetada pelos 30 anos de serviço público, juntamente com a sua personalidade. Certas coisas não cabem em caixas de papelão, mas carregamos a vida toda.

segunda-feira, abril 4

Viva o punk

I don't care - Ramones

I don't care
I don't care
I don't care
About this world
I don't care
About that girl
I don't care
I don't care
I don't care
About these words
I don't care

domingo, abril 3

Um dia diferente dos outros

Pensei muito antes de escrever sobre a morte do papa, mas seria impossível passar por esse dia e nem tocar no assunto. Jornalisticamente falando, o título da Folha Online de hoje: "Morre Karol Wojtyla, o papa João Paulo II" me fez reler e repensar o ocorrido várias vezes. Não é todos os dias que lemos algo tão marcante. Quando era criança, via aquele homem, vestido de branco, beijando o chão depois de sair do avião e logo depois falando todas as línguas do mundo. Nada de santo padre, nem de líder da Igreja. O papa, para mim, era o cara que beijava o chão e falava português. Minhas ideias sobre religião e sobre a Igreja Católica não têm a ver com esse texto. Apenas o sentimento de perda por alguem que nunca vi, mas reconheço o poder de unir o mundo. Se não foi em vida, foi na morte.
Sem mudar muito de assunto, hoje ouvi no rádio a história de um primo do papa que mora no Brasil. Com um misto de nome de família e nome papal, João Wojtyla mora no Rio Grande do Sul e é filho da irmã da mãe de Karol. Tem um ano a menos do que o papa e ainda se lembra com orgulho quando viu o primo pela primeira e única vez. Por dois minutos. Foi quando o papa esteve em Porto Alegre pela primeira vez. Depois disso, João chegou a escrever para o primo em Roma e teve uma resposta, dizendo que estava muito feliz por receber uma carta do primo brasileiro. Na segunda visita, não conseguiu se aproximar do papa por motivos de segurança. Hoje, João Wojtila está muito debilitado e não vai ao enterro do primo. Mas o orgulho está sempre com ele, mesmo com a distância de uma vida.

sexta-feira, abril 1

Os arquiduques escoceses

Francisco Ferdinando foi o nome do arquiduque cuja morte acelerou a I Guerra Mundial. O mundo nunca mais foi o mesmo. Essa tendência de mudança - com ar de falsa modéstia - foi uma das intenções dos escoceses Alex Kapranos, Robert Hardy, Nicholas McCarthy e Paul Thomson quando usaram o nome de Franz Ferdinand para a banda que tinham criado.
Começaram a ensaiar nos subúrbios de Glasgow, num armazém abandonado a que chamavam o "Chateau". Depois de serem expulsos de lá pela polícia e de mudarem de local de ensaio por algumas vezes, a banda gravou um EP em 2003, que pretendiam lançar por conta própria. Chamaram a atenção da Domino, uma gravadora independente britânica que lançou o single "The Darts of Pleasure". Depois de terem vencido alguns prémios musicais, assinaram pela Sony no final daquele ano.
Alex Kapranos disse que numa das músicas da banda ("Come on Home"), eles tentavam soar como uma mistura da disco-music de Donna Summer com a guitarra distorcida instrumental de Link Wray, mas não conseguirma nenhuma das duas coisas. Tentaram parecer Prince, mas logo depois tiraram a conclusão meio óbvia de que o que eles realmente queriam era misturar o estilo e a atitude de diversas bandas e usar no estilo próprio do Franz Ferdinand. O álbum homônimo conseguiu o resultado esperado. A banda lançou o disco mais arejado no ano de 2004 e trouxe uma energia e atitude que não tem nada a ver com o chamado "novo rock" dos Strokes. É muito melhor.
Os membros da banda já disseram que gostariam de fazer álbuns que as mulheres possam dançar ao som dele. Se o objectivo era apenas esse, eles conseguiram muito mais do que o esperado. Para quem ainda não acredita que algo de muito novo e diferente vem aí com o Franz Ferdinand, basta ver alguns video-clips da banda escocesa ou babar num dos mais fantásticos shows do ano. "This Fire" é um single de primeira, "Take me Out" parece duas músicas em uma, "The Dark of the Matiné" tem vocalizações mais do que eficientes, e as onze músicas passam rapidamente. Para mim foi o melhor álbum e o melhor show de 2004. Altamente recomendado.

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